segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Pirilampos e serpentes...

Pirilampos e serpentes... Pessoas que brilham e pessoas que não brilham.
 
Um drama é “uma situação ou um acontecimento de grande intensidade emocional”, e está normalmente associado ao teatro, à ópera, ao mundo do espetáculo – um universo onde os sentimentos se querem rentes à pele, e as emoções estão muito mais próximas da boca e do olhar, das fronteiras do corpo com o mundo.

Maria Callas
Ser dramático significa ser excessivo em tudo – no bom e no mau. Acrescenta um tom à vida: mais cor, mais alegria, mais barulho, mais riso e, também, mais choro, mais tristeza, mais densidade. É uma característica de certas pessoas que brilham – Maria Callas, por exemplo, era insuportavelmente dramática, mas o seu talento permitiu-lhe ser uma verdadeira diva. Porém, raras são as pessoas que têm a capacidade de se tornarem divas!

E o drama transforma-se num problema, praticamente insolúvel, quando é necessário conviver com pessoas dramáticas no dia a dia – nas horas banais, nas situações normais, nos lugares comuns. Pessoas dramáticas com vidas anônimas, que querem brilhar em todas as ocasiões, em todos os momentos.


Pessoas dramáticas precisam de plateias e não suportam que mais ninguém brilhe. Lembram a história da serpente que perseguia o pirilampo. Por muito que ele fugisse, a serpente não desistia, e no final do terceiro dia, o pirilampo, já exausto, perguntou:

– Pertenço à sua cadeia alimentar?

– Não. – respondeu a serpente, lacônica.

– Fiz-lhe algum mal? – quis saber o pirilampo, desconcertado.

– Não. – tornou a responder a serpente.

– Então por que é que você quer destruir-me?

– Porque não suporto ver você brilhar.

Há pessoas assim: acham que são o centro do mundo, e não perdoam o brilho dos outros. Onde quer que estejam, causam drama: sofrem, controlam, estrebucham, impõem-se, lamentam-se, chantageiam. Falam mais alto. Querem ter sempre razão. São as coisas do ego!

Nelas tudo é visceral. Não existe meio termo – não há equilíbrio. Há os dias sim e os dias não. Elas possuem uma espécie de bipolaridade incurável, que se arrasta do café da manhã ao suspiro que antecede o sono.

Nada disso significa que essas pessoas sintam um amor maior ou uma dor mais funda. Significa apenas que o excesso transborda de dentro delas e invade o mundo dos outros, de forma bruta, porque elas não têm consciência das fronteiras dos outros.

É difícil sobreviver-lhes – não há paciência ou afeto que resistam.

Porém, o que é verdadeiramente triste é que, na maioria das situações, elas não brilham, porque o cotidiano não comporta esses excessos.

Daisaku Ikeda
Daisaku Ikeda – filósofo, escritor e líder budista japonês – diz que seres que odeiam ser superados, e se ressentem por não ser o centro das atenções, possuem uma mente pequena e ocupam um dos estados mais baixos da existência humana. Estes seres quase sempre trazem o pior à tona: o pior deles e o pior dos outros.

Nelson Mandela
Mas nem todas as pessoas que brilham são dramáticas – e isso é muito melhor. Infinitamente melhor! São pessoas que têm uma luz própria, e não precisam do drama. Bastam-se a si mesmas. São discretas, embora deixem suas marcas gravadas no fundo dos nossos corações – Nelson Mandela, por exemplo.

Estas pessoas que brilham são equivalentes aos pirilampos do mundo dos homens. Pirilampos vertiginosos, com seus voos brilhantes, e seus imensos rastros de luz.

Há pessoas que resgatam o que temos de melhor, e há pessoas que exacerbam o que temos de pior. Sem razão aparente, sem grandes explicações. É simplesmente assim: há pirilampos e há serpentes. Há pessoas que brilham e há pessoas que não brilham. E isso não tem nada a ver com o ruído que fazem. E os melhores de todos são os pirilampos – os que se acendem por dentro e iluminam tudo, sem esforço e sem ruído.
 
 

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