terça-feira, 12 de junho de 2012

Otimismo em excesso. Haja paciência...

Existem coisas que me incomodam, me irritam profundamente.
Uma delas são aquelas pessoas excessivamente otimistas.
Não, eu não tenho inveja. E não, eu não alimento dores e lamúrias, apesar de gostar de um teatrinho às vezes.
Mas as pessoas otimistas, extremamente otimistas me irritam. E não é sem fundamento. Ao menos não para mim.

Um dos problemas que há em ser otimista em demasia (demasia, eu adoro esta palavra) é que a pessoa não vê as coisas, os fatos como eles são. Ela muitas vezes deturpa a realidade. Cria, imagina falsas expectativas. E por mais que apresentem a ela elementos comprovados de que algo provavelmente dará errado no projeto dela, ela simplesmente ignora.

Tenho uma amiga e um amigo que são otimistas incorrigíveis. Em grau superlativo. Chega a doer na alma.
A amiga é dessas que simplesmente ignoram os percalços da vida. Não existe problema, e se por ventura vier a existir ela com certeza conseguirá resolvê-lo ou transpassá-lo. Fácil assim.
E não é que você apresente fatos hipotéticos e fantásticos, algumas vezes o fatos são sólidos e concretos. Mas ela simplesmente ignora. Isso não quer dizer que ela tem menos problema ou vive melhor. Longe disso. Ela quase ficou sem ter onde morar devido ao otimismo exacerbado. Ela comprou uma casa na planta, e a contrutora deu até mês x para entregar ( na verdade 7 meses após a assinatura do contrato). E ela simplesmente, mesmo sabendo de casos em que a construtora atrasou de 2 a 5 meses a entrega dos imóveis, ignorou e não renovou o contrato da casa de aluguel em que morava. Nem pediu ou avisou ao dono sobre nada. E o dono achando que ela sairia em fevereiro. Ela ficou nesta casa por 3 meses após o término do contrato. Acontece que o dono da casa havia dado a casa de presente de casamento à filha, e mesmo minha amiga podendo ficar lá por mais um tempo, ela precisou conviver com o incômodo de pedreiros e obras na casa. Esse é um dos casos dela.

O outro amigo é... digamos, o dono da razão. É assim porque ele quer assim. E acontecerá assim e ponto. E se alguém fala algo sobre isso ele já acusa de olho gordo, de "melar" as coisas dele.
Ele também ignora o fato de ter que dar explicação aos pais, dos pais algumas vezes proibirem sua saída, regularem dinheiro. A vida pra ele é leve e branda. Na maioria das vezes. Contudo, quando algo não sai como o esperado, a Torre dele rui. Ele fica um caco. Entra em crise existencial. Ele se nega a enxergar alguns percalços antecipadamente. E qualquer coisa fora dos planos imaginários dele vira uma tragédia grega.

Outro problema (na verdade um dos problemas) em ter amigos assim, tão otimistas é que parece (e às vezes é) que eles nunca nos ouvem, principalmente quando o assunto é pesado e problemático. Parece que eles não têm a "sensibilidade" para nos ouvir. E chega a parecer também que eles não têm a inteligência para nos entender.
Você está lá, falando sobre um dado problema. (E se dê por sortudo da pessoa ainda continuar a conversa com você e não arranjar outro compromisso e/ou mudar repentinamente de assunto).
E a pessoa simplesmente ignora os pormenores importantes. E ela impaciente quer que você resuma, e do nada, resolve todo o problema de uma forma bem tosca. E impossível.

Certa vez, lendo um texto de um conceituado palestrante, ele comentou sobre as pessoas otimistas, pessimistas e as... estratégicas.
E isso nunca saiu da minha cabeça. Mesmo eu tendo uma pequena tendência ao pessimismo, eu me considero estratégica. Simplesmente pelo fato de que eu não me iludo facilmente. Eu não consigo fechar os olhos e ouvidos para promessas internas ou externas. Ou não sei não analisar todo o contexto. E além de tudo, eu sou sim realista.
Uma pessoa estratégica tem sim, como as otimistas em demasia, planos.
As duas pessoas criam mecanismos e ações para realizar esses planos. Mas só a estratégica  sabe (ou antecipa) as dificuldades que terá, e como fará para diminuí-las, ou exterminá-las. E criando antecipadamente esses problemas dificilmente ela será possuída pelo espírito trágico-grego-dramático. Não será fácil pegá-la com "as calças nas mãos" nem abatê-la facilmente.

E sendo estratégica, algumas pessoas me consideram pessimista. Não, não sou. E por ser estratégica, não consigo manter contato com pessoas exageradamente otimistas. Tenho uma amiga que se recusa a aceitar o fato de que algumas pessoas são incondicionalmente felizes, e também não consegue manter um contato com estas pessoas.

E por ser estratégica eu sempre saio de casa uns minutos mais cedo, para ter uma folga no horário. Não confio no trânsito, nem na "boa sorte". Não espero favores de terceiros. Em ambientes hostis eu ouço mais que falo, observo muito. E quando viajo sempre levo roupas de frio e de calor. E sempre trabalho com planos B e C.

Millôr Fernandes defendia: “É melhor ser pessimista do que otimista".

Aquela fabulosa e famosa metáfora do Copo meio cheio e/ou meio vazio. Você conhece?

Como você vê? O que você vê e sente primeiro? O copo meio cheio? Ou o copo meio vazio?

O otimista exacerbado enxergará apenas o conteúdo líquido do copo, e deverá achar que durará a vida toda ou algo ou alguém completará, magicamente, o copo. Ou que será muito fácil conseguir mais água. Talvez até seja., mas e se não for? E se acontecer algum imprevisto?
O pessimista ficará se lamentando sobre a metade vazia. De como ele é azarado de ter um copo tão pequeno. E de como é difícil completar e manter o copo cheio.
E o estratégico? Bem, ele vai calcular qual a capacidade do copo, quanto tempo durará a água, onde ele poderá buscar mais água, etc.

Viva os estratégicos!

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